Tópico 21 - portfólio de devaneios

13/01/2015

Iced Coffee

Estamos em janeiro e o calor das vinte horas é mais comum que os murros em ponta de faca da rotina de escritório, das oito da manhã às seis da noite, com o acompanhar de mais duas horas de metrô lotado e baldeação. Nesses dias estamos habituados a fugir da chuva de verão e com a festa de inauguração do clube de sapatos de plásticos que me chamara tanta atenção e propusera novas amizades, acabava no livre gozo da pausa para olhar, conversar, comprar e gastar todo o dinheiro da semana em mais pares de calçados delicadamente infantis que nunca poderia usar com um vestido chique de mais de quinhentos reais, uma ofensa.
Lá se foi no contar de poucas linhas a praxe de segunda à quinta e já é sexta. Fora do comum apenas a atenção extra para o gato felpudo – Alex Segundo – que durante a semana mal o notei, de gourmet, uma salada italiana que recebi a receita por e-mail da senhora que trabalha comigo na empresa, mas já está muito cansada para fazer qualquer outra coisa que não fosse aprender e compartilhar culinária estrangeira para as meninas da contabilidade e eu.
Do outro lado da cidade, não me lembro bem o nome, das seis da manha às oito da noite passava o rapaz de perfume caro e bom gosto musical por sua semana pouco mais amena, restaurantes caros, vinhos por conta do chefe e um punhado de amigos falsos o ligando para dizer parabéns pela promoção desejando profundamente seu cargo. Já é sexta e fora do comum apenas a ânsia por comprar o novo livro do seu professor da pós-graduação.
De ambos os lados sairíamos de casa noite dessas para refletirmos na livraria com café do centro velho, esquivando fixamente dos bares sujos de São Paulo, uma batalha de força quando se é um jovem de vinte e poucos anos cheio de poesia escura nos poros da alma. Enquanto um de nós buscava por Dante Alighieri outro preferia Paulo Coelho para comentar o autor favorito do dono da fábrica com quem fecharia negócios caríssimos na semana seguinte, o que nos aproximávamos era exclusivamente a preferencia por café expresso sem açúcar e uma pedra de chocolate amargo. Olhávamos as páginas e nos olhos disfarçadamente durante toda noite até sermos quase expulsos por ultrapassar o horário de fechamento do Iced Coffee.
- Moça, você não pode ir embora sem a chave do carro! – assim o rapaz finalmente chamava a atenção e iniciava um diálogo de maneira única, o que me deixaria agradecida por evitar tamanho desastre de esquecer o molho de chaves no café que só abriria à uma hora da tarde no dia seguinte. Caminhávamos juntos pelo quarteirão, o que indicava que havíamos deixado o carro no mesmo estacionamento vinte e quatro horas, tempo o suficiente para forçarmos uma conversa como “você-está-me-seguindo”, uma piada, aquilo que havíamos lido, e o convite para afogar o calor em uma garrafa de cerveja com um estranho.
Terminamos com os pés na areia depois de um show porco rock na casa noturna mais popular do litoral norte, cada um com seu carro, pois tínhamos miolos suficientes para não confiarmos inteiramente em ninguém. Um beijo e a sensação da areia fina pela coxa entre os pelos loiros, maciez e sal, satisfação plena por ter o tédio brutalmente interrompido. – E seu telefone? – Prefiro te encontrar por coincidência, destino, ou qualquer reza, cafés, casas noturnas... A gente se fala! Assim só me lembro que depois amanheci de garganta seca na sala do apartamento pequeno de Pinheiros e de ter essa história para contar.

24/06/2014

Desejando Morrer de Amor


Certo feriado desses de comemorações grandiosas e demonstrações de amor na mesma proporção, descobri uma garota que de vinte e quatro horas, tirava cinco para borbulhar o desprezo por libra que em meio à todo equilíbrio carrega a característica de romantismo, que era uma qualidade sua que nunca houve economia de tempo para reverter. Ouvia sempre bandas com guitarras distorcidas para perder por sua grande boca, como o escorrer de um gloss vermelho, frases compostas do verbo "amar" feito a maior estupidez humana, declaradamente, um coração à prova de balas. 
Em alguns casos não se consegue tirar cartas das mangas e bastaram dois relacionamentos falidos para então esquecer os sonhos de menina e começar a repudiar qualquer ideia de casamento antes dos trinta junto à meia dúzia de contos de amor. Até o final das  minhas contas, se passaram noites em boates gls, a tensão de sentir-se preste a perder amigos do cursinho de teatro, faculdade, trabalho, falta de tempo e os inconvenientes anúncios de "bom dia só para você" ou "não me perturbe".  
Terça estava marcado, no horário do almoço aparecia Thiago fazendo convites para um picolé de praça, quinta era vez das incansáveis tentativas de Kelvin, Willian aparecia para o final de semana reforçando o quando era musculoso - mesmo sabendo que não era lá um Thor - e no concluir dos cálculos, para cada proposta eram sete negações bem esclarecidas.  
Ela realmente me diz hoje em dia que vivemos sempre duas realidades, dessa maneira apareciam sempre comédias românticas em sua sessão de cinema favorita e se estivesse de folga, sem dúvidas, em suas horas de músicas o dj escolheria as onze mais meladas do ano, o que criava a outra face de mulher aos seus vinte e poucos anos desejando morrer de amor. Mesmo depois de tanto correr contra, existia uma quarta-feira a ser preenchida, uma daquelas vinte de abril, que ao entrar no elevador a fez ouvir um simpático desejo de boa tarde, sorrindo pode responder ao garoto vinte e poucos anos desejando ser amado, "faça boa essa minha tarde", a tarde mais longa e intensa de sua vida. 
 

09/06/2014

Jukebox #Dia dos Namorados

Como dito no post anterior, preparei uma sequência especial para o dia dos namorados, e dessa vez trago uma lista de músicas para curtir seja como for (mesmo se você não estiver apaixonado).
Agora, sintam-se a vontade para compartilhar suas músicas-temas dessa data, sejam elas para serem ouvidas com um par, amigos solteiros que só querem se divertir, e até aquelas que combinam mais com um dia 12 de copa do mundo.  

05/06/2014

Sem Prazo de Validade

Vaguei a manhã inteira atrás de demonstrações de amor, já que o clima de frio e a proximidade com o dia dos namorados não conseguem nos fazer esquecer. Aliás, eu não aceito que se esqueça esse dia tão gostoso e comercial por um pouquinho de copa, dessa maneira, rumo à sequência mais melada desse blog.  
Em 2012 a fotógrafa Simone Monte, reconhecida no meio da moda, convidou mulheres com quem se identificasse, incorporando força, poder e sexualidade, para homenagear o escritor Carlos Drummond de Andrade, realizando sua superexposição de “Arrepio: Uma Declaração de Amor” na cidade de São Paulo. A verdade é que beleza não tem prazo de validade, e fragmentos de textos escritos na pele com tinta nanquim é o contexto certo para iniciar uma história de amor.  
Confira: