De dezoito anos, me lembro até mesmo dos pequenos cadernos de poesia copiada de quando comecei a aprender que "bo" mais "la" daria uma palavra e que existia um desejo incontrolável de me tornar uma escritora por volta dos seis anos, definitivamente, também aceitei o fato de que nunca fui boa com ilustrações e isso me presenteou com o perfeito contexto para criar uma coletânea de halloween para crianças, com textos simples e desenhos monstruosos.
Do símbolo de uma bic azul e profundamente clássica no fundo da gaveta, me cubro de questões não respondidas que sempre terminam com a indagação de porquê nunca mais escrevi. Durante algumas semanas resgatei alguns cadernos de rascunhos literários do tempo em que me sobrava tempo para ir ao cinema, discutir um bom livro, e ser o que simplesmente fui antes dessa mudança de direção que o meu mundo resolveu dar, estabelecendo a frustração da falta de desejo em sintetizar minhas atuais histórias.
Acho que deixei de escrever quando também abandonei o hábito de chorar ou lamentar, mesmo que a ideia carne de vaca de que escrevinhador devesse sofrer, fosse deplorável, mudei o comportamento em mesmo período. Vivo de olhos baixos, e quando levanto-os para atravessar a rua, o sol continua brilhando. As pessoas continuam apressadas, cada dia mais um prédio cinza na cidade e a falta de arco-íris no cotidiano, muitos artistas ainda vivem de esmolas e para dizer a verdade, devo ter mesmo me adaptado ao relógio das seis da manhã, aos "bom dia" automático para cultivar a boa vizinhança e à doçura de um novo amor, que por sua vez, não me permite verbalizá-lo para ter mais tempo de viver. Desculpe-me a ausência.
